quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Deus sive Natura

Em uma calma tarde como a de hoje, em que depois do sol a chuva já se fez presente com raios e trovoadas, muitas reflexões passam pelas cabeças.
Eis que nos chega um texto maravilhoso de Bento de Espinosa, filósofo holandês precursor do Iluminismo que viveu no século XVII e contribuiu para a Filosofia Moderna. Não foi a toa que, na época, foi excomungado pela Igreja Católica. Suas ideias sobre Deus diferiam das ideias da maioria dos cristãos da época, católicos ou não, porque levantavam a bandeira da ciência, da razão da Natureza.
Espinosa defendeu o Deus sive Natura (latim, Deus ou Natureza), ou seja, acreditava que havia algo que possuía infinitos atributos entre os quais a matéria e o pensamento, os únicos que ainda conhecemos.
Mas o tempo passou... gênios passaram para nos deixar suas obras. E hoje temos a liberdade de concordar ou discordar delas.
Não há como negar que esse texto seja fantástico... Albert Einstein, ao ser questionado se acreditava em Deus, respondeu de forma enfática: "acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordeira daquilo que existe, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos atos dos seres humanos".

DEUS SEGUNDO SPINOZA



"Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da sua vida miserável. Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não poder me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem te irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor!

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?

Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.

A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre.

Não há prêmios nem castigos. Não há vícios nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.

Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.

Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste...

Do que mais gostante?

O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido? ... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.

Para quê precisas de mais milagres? Para quê tantas explicações? Não me procure fora! Não me acharás.

Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."

Para completar a reflexão de Espinosa, segue um vídeo muito massa sobre Natureza e Gratidão!


Muitas alegrias para todos! Valeu!

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